sábado, 15 de outubro de 2011

A Justiça viajou sem deixar lembranças?

A Justiça
Fiquei com o queixo caído quando li na folha de São Paulo há dois domingos atrás (09.10) que o rei Roberto Carlos comprou um novo iate de 45 milhões de reais! É isto mesmo que você leu: 45 milhões! Nada contra o Roberto (não quero arrumar confusão com minhas paroquianas rsrs), mas ao mesmo tempo pensei em tantas pessoas que não têm dinheiro para fazer sequer um exame de saúde mais sofisticado tornando-se reféns da fila do SUS, para ficar somente em um exemplo. Então de um lado, temos uma cifra milionária para um bem supérfluo e do outro, a falta de um dinheirinho modesto para um bem necessário, ou seja, a conservação da vida. Será que a justiça viajou sem deixar lembranças?

Em sua mensagem por ocasião da quaresma no ano passado, o Papa Bento mencionava em sua reflexão uma definição clássica de justiça, tirada do direito romano e imortalizada no latim como “dare cuique suum” que significa “dar a cada um o seu”. Se vivêssemos esta concepção de justiça estaríamos muito bem. O Roberto teria direito ao seu iate, mas tantos brasileiros teriam também direito ao seu exame médico, custasse o que este custasse. Esta concepção de justiça começaria  a dar uma outra cara ao nosso país, cicatrizando assim a grande ferida da desigualdade social.

Pensar a justiça como uma virtude a ser vivida era tarefa recorrente tanto para a Platão em sua obra A República, quanto para Aristóteles em sua Ética Nicomaquéia, que viam a justiça como fruto da relação estado-coletividade. Aristóteles classificou a justiça em distribuitiva e corretiva. A primeira consiste em distribuir os bens entre os membros da comunidade; a segunda invés tem como função corrigir aquilo que é considerado injusto, restabelecendo assim a igualdade perdida, punindo quem cometeu injustiças e premiando aqueles que a sofreram. Um homem justo, ainda segundo Aristóteles, é aquele que observa a lei e procura ter na sua vida nem muito, nem muito pouco, mas a justa medida.
Santo Tomás considerava a justiça como rainha de todas as virtudes morais. É rainha porque, enquanto as outras virtudes servem para fazer virtuosa quem as possuem, a justiça é louvável pelo fato da pessoa virtuosa contribuir para o bem estar de toda a coletividade. Tomás ainda recorda que, se a fortaleza é uma virtude admirável, sobretudo em tempos de guerra,  mas ainda o será a justiça, pois o homem justo é admirado seja na guerra, seja na paz. E pensar que a sabedoria popular, de uma certa forma, resumiu tudo isto no famoso ditado: “casa em que falta o pão, todo mundo briga e ninguém tem razão”.

Realmente, “bicho, são tantas as emoções” em se ter um brinquedinho de 24 milhões de reais. Maior emoção será quando, o penhor desta igualdade, conseguirmos conquistar...

pe. Gil

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