Estamos no capítulo 22 de Mateus. Fariseus e Saduceus
colocam Jesus à prova. Querem desqualifícá-lo como Mestre, não aceitam que ele,
Jesus se coloque como filho de Deus. Mas as armadilhas que Fariseus e Saduceus
vão colocando no caminho de Jesus, para que ele caia têm efeito contrário, são
eles que caem nas armadilhas pelas respostas perfeitas que Jesus dá.
Aos fariseus que perguntam se é lícito pagar os impostos, Jesus diz, “Dai
a Cesar o que è de César, e a Deus o que é de Deus”. Aos saduces que perguntam
com quem dos sete irmãos, na vida eterna,
ficará a mulher que se casou com todos na vida terrena, Jesus responde
que o céu será a festa do espírito e não da carne. E eis então que chega o
grande momento, Fariseus e Saduceus querem dar o xeque-mate em Jesus; se
estivéssemos assistindo um filme, aqui seria aquele momento ápice do enredo, em
que todo mundo seguindo a cena quase perde a respiração. O que acontece?
Fariseus e Saduceus escolhem então o melhor deles, o mais inteligente, o mais
estudioso, para fazer a Jesus a pergunta fundamental, a pergunta essencial para
os Judeus. E este Fariseu estudioso, teólogo, conhecedor da Torá, Teólogo
finíssimo, pergunta: Qual é o maior
mandamento da Lei. Silêncio. Naquele momento poderia se ouvir uma mosca
voando. Será que Jesus vai acertar? Será que ele saberá dar a resposta correta, adequada? Se errar, já viu. Será acusado como blasfemo e será apedrejado na mesma hora. È uma pergunta dificílima por que os Judeus seguiam mais de 600 preceitos, com minúcias e detalhes. Mas para uma pergunta assim fundamental a resposta deveria ser também fundamental: E Jesus então responde: O maior mandamento da lei é amar a Deus com tudo o que vc é e o segundo é amar o próximo como a você mesmo. Resposta perfeita. Podemos imaginar os Fariseus olhando para os Saduceus, os Saduceus olhando para os Fariseus, engolindo em seco e saindo de fininho.
Aquela resposta de Jesus transformava todos os 613 preceitos em apenas um: a lei do amor. O amor a Deus e ao próximo. Não teve apedrejamento, não teve gritos, não teve escândalo, porque, com a sua resposta, Jesus surprendeu até mesmo os seus inimigos. A resposta fundamental a pergunta fundamental, é o Amor.
A lei do amor, é a lei maior, não existe nada maior do que o amor, então o amor é a coisa maior que podemos pensar: não é o dinheiro, não é o sexo, não é o poder, não é o ódio. A coisa maior que podemos pensar é o amor. É também o primeiro mandamento, antes disto não existe nada, o dinheiro não vem em primeiro lugar, sexo não vem em primeiro lugar, o poder não vem em primeiro lugar, o ressentimento não vem em primeiro lugar. Na nossa vida, o que vem em primeiro lugar é o amor.
Amar é o máximo que podemos fazer. Qual a máxima coisa que posso fazer da minha vida? Pergunta o jovem. É amar. Diz a história que quando o evangelista João era já velhinho e participava da reunião dos primeiros Cristãos e alguém pedia para ele lembrar alguma fala de Jesus ele sempre repetia: “Filhinhos, amemo-nos uns aos outros porque o amor vem de Deus”, como ele sempre repetia isto em todas as reuniões alguém um dia reclamou. Mas , João, não dá para falar alguma coisa diferente, você esteve com Jesus e sabe tantas coisas dele, porque repete sempre a mesma coisa? E João respondia: Porque esta é a lei do Senhor, e se a colocamos em prática colocamos em prática todo o evangelho.
O tema na nossa novena hoje é sobre ricos e pobres no grande cenário que é a Cidade de São Paulo, a cidade mais rica da América Latina e também para muitos de nossos irmãos a mais pobre. Muitas teorias foram criadas para explicar a desigualdade social, a miséria no mundo. A grande teoria, talvez a maior delas, criada para explicar e dar uma solução para a desigualdade social entre os homens , e colocada em prática foi o comunismo. Grande parte do mundo, por muito tempo, viveu sob o guarda chuva do comunismo. Mas sabemos do resultado. Não deu certo. E não deu certo porque ouvimos hoje no evangelho que a grande lei para dirimir as injustiças, a desigualdade, a pobreza, a miséria, não vem de uma teoria que explique a sociedade, mas vem do amor. A solução para a desigualdade escandalosa entre ricos e pobres não só de São Paulo, não só do Brasil, mas de todo o mundo não passa por leis. As leis podem remediar, remendar. Mas nós que somos cristãos, católicos, confiamos e acreditamos em Deus, sabemos que a solução vem pela lei inaugurada por Jesus Cristo, a lei do amor.
Mas , padre, como eu sei que eu estou amando. Se vc faz uma coisa sem desejar receber nada em troca, ali está a essência do amor, e quando vc faz o bem, mesmo sabendo que em troca irá receber o mal, ali está o ponto máximo do amor. Jesus na Cruz, dando a sua vida e em troca recebendo humilhação. Não existe amor maior do que aquele que dá a própria vida.
A resposta que Jesus dá aos fariseus e ao povo do seu tempo nos revela dois caminhos. O primeiro é amar a Deus pra valer. O segundo é amar o outro pra valer, igual como amamos a nós mesmos. Amar ao próximo é caminho de salvação, isto nos leva a pensar que, alguém que não tivesse lido uma palavra da bíblia, alguém que por acaso nunca tivesse comungado, alguém que por acaso nunca tivesse partcipado de uma única missa, mas vivesse na vida a lei do amor, então este alguém estaria salvo. Neste sentido, uma pergunta, o que é melhor, ser um ateu virtuoso ou um Cristão vicioso?
A fonte do amor vem de um único lugar: do coração de Deus. Então, quem ama o irmão, mesmo sem saber, ama a Deus.
O que significa amar? Significa cultivar o amor. Se vc faz um bem mesmo sabendo que não receberá nada em troca, então vc está agindo por amor. Quanto maior for a sua dedicação e quanto menor o retorno, maior então a medida do seu amor. Por isto não existe um amor maior do que aquele em oferecer a propria vida. Quem oferece a própria vida não recebe nada em troca, pelo simples fato de estar ofertando o seu bem mais precioso, a propria vida. Eis o tipo de amor inaugurado por Jesus. Nisto, Jesus é imbatível.
Os 613 preceitos da lei judáica, o Senhor os transformou em 1. A lei do amor. Ame a Deus e ame o próximo como a você mesmo. Ame e faça aquilo que quiser. Se calar, cale por amor, se corrigir, corrija por amor, se der uma esmola, dê por amor.
Kant, grande filósofo alemão, mudou os rumos da filosofia quando disse que tudo aquilo que fazemos, fazemos dentro da relação espaço-tempo. Tudo o que o ser humano faz, tudo o que oser humano sabe, tudo o que ser humano imagina, é dentro do espaço e dentro do tempo,que são categorias a priori do nosso conhecimento. Sem espaço e tempo nada feito. Vc não pode pensar nada se não for usando estas duas categorias. Mas a categoria que o Cristão deveria usar para fazer tudo, pensar tudo, entender tudo, agir, não é a do espaço-tempo, mas sim a categoria do amor. As lentes que usamos para enxergar a realidade, não são do espaço-tempo, mas são as lentes do amor.
Em Julho de 1941, um homem do campo do mesmo bloco de Kolbe foge e como represália, os nazistas escolhem 10 outros prisioneiros para morrer de fome e sede no bunker (o prisioneiro fugitivo é mais tarde encontrado morto, afogado numa latrina). Um dos dez, Francisco Gajowniczek, lamenta-se pela família que deixa dizendo que tinha mulher e filhos, e Kolbe pede para tomar o seu lugar. O pedido é aceite. Na realidade, o Padre Kolbe aceitava o martírio para praticar heroicamente seu múnus sacerdotal, dando assistência religiosa e ajudando a morrer virtuosamente aqueles pobres condenados. Duas semanas depois, só quatro dos dez homens sobrevivem, incluindo Kolbe. Os nazis decidem então executá-los com uma injecção de ácido. Foi canonizado por João Paulo II em 1982, na presença de Franciszek Gajowniczek, o homem cujo lugar tomou e que sobreviveu aos horrores de Auschwitz.
Amor, esta é a lei do Senhor, e se a colocamos em prática colocamos em prática todo o evangelho.
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