Um australiano de 82 anos que vive perto de um penhasco usado com frequência para suicídios afirma ter convencido mais de 400 pessoas a desistir de por fim a suas vidas. Há cinco décadas, Donald Ritchie, armado apenas de seu binóculo e de um papo tranquilo, monitora o movimento no The Gap, penhasco perto de sua casa nos arredores de Sydney.
Devido ao trabalho voluntário, Ritchie foi batizado pela mídia australiana de "anjo da guarda". Ritchie passou a maior parte de sua vida observando a beira do The Gap. Quando percebia alguém muito pensativo, contemplando demais o oceano, e que havia ultrapassado as cercas existentes no lugar, o ex-vendedor de seguros de vida se dirigia ao local para conversar com a pessoa. "Com apenas um sorriso, uma saudação ou uma conversa amigável, muitas vezes conseguia fazer com que a pessoa mudasse de ideia", disse ele, em entrevista à BBC brasil. Entre seus argumentos mais eficientes está o convite para tomar um café em sua casa. Mas, atualmente, devido à idade e a problemas de saúde, Ritchie tem se limitado a observar o local e alertar a polícia em casos suspeitos. "Há dois dias salvei uma moça, ligando para a polícia."
Algumas das mortes estão registradas em seu diário, outras estão muito vivas em sua mente. "Há uns 20 anos fui salvar essa moça, ela estava quase mudando de ideia quando um carro se aproximou e ela se levantou para pular, eu a segurei, mas ela me puxou junto e foi por pouco que não caímos os dois", lembrou. Ao longo dos anos, o "anjo da guarda" recebeu várias manifestações de agradecimento e carinho, entre cartas, pinturas e até garrafas de champanha deixadas em sua porta.
Em 2006, o aposentado foi homenageado com uma medalha do governo australiano. Mas ele evita a atenção da mídia por considerar suicídio um tema bastante delicado. "Quanto mais divulgamos sobre suicídios, parece que mais eles acontecem", disse. Segundo dados do governo australiano, estima-se que cerca de 50 pessoas cometem suicídio no The Gap por ano.
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